quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Episódio Especial

"A pergunta que não deveria ser feita chegou, atravessando o silêncio e a escuridão do quarto:
- És feliz comigo?
Porquê aquela pergunta outra vez? Porquê perguntar o que tinha uma resposta óbvia? E o que responder agora? Seria melhor mentir ou deixar que a verdade viesse piorar ainda mais as coisas? Como mentir é sempre o único recurso disponível, a resposta veio camuflada e tentado causar o menor estrago possível:
- A felicidade é um conceito muito vago e discutível...
Não era aquilo que quem perguntou esperava ouvir. Obviamente, não era mesmo nada daquilo. E então? A preocupação de não magoar tinha que estar sempre do mesmo lado? Afinal, a verdade servida crua seria:
- Não, eu não sou feliz contigo! És distante, quase sempre indisponível, irresponsável, insensível, egoísta, entre muitas outras coisas que jamais poderão fazer outra pessoa feliz! Amo-te, cuido de ti, mimo-te, preocupo-me contigo, entrego-me de corpo e alma e o que é que recebo em troca a maior parte do tempo? Queixas, lamentações, indiferença, descuido e esquecimento. Devia fazer-te as malas e mandar-te sair. Ordenar-te que deixasses o meu coração. Pôr-te na rua e gritar: DESAPARECE!! Se não me fizesses tanta falta, era mesmo isso que já tinha feito.
Amuou. Mesmo que a resposta camuflada amuou e ressentiu-se. Mas que raio esperava? Ouvir: sim, meu amor, eu sou muito muito feliz. Mas como poderia ser esta a realidade? É isso que se vê nas nossas vidas todos os dias? Feliz??? Feliz onde, como e quando? Com a indiferença diária? Com os carinhos que ultimamente parecem forçados? Com o cilindro emocional com que esmaga os sentimentos alheios? Com o afastamento que precede os momentos de maior proximidade?
Realmente, eram dois mundos e duas realidades diferentes. Demasiado diferentes.
- Vamos esquecer isto, está bem? Eu amo-te, tu não me amas. Sei disso. Queres estar comigo?
- Claro que quero! Eu adoro-te, mas tu não acreditas em mim.
- Se queres estar comigo, é o que interessa. Eu também quero estar contigo. Fiquemos assim.
E adormeceram num abraço, como todos os dias."

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

De volta a este cantinho

Hoje tive vontade de aqui voltar. Porquê? Não sei. Ou se calhar até sei, mas não quero ver. Ainda não quero ver. Voltei a ter um desejo que já não tinha há alguns meses. Não é, nem deixa de ser positivo. Apenas indica que não estou bem ou que algo à minha volta não está bem. Queria estar em casa, na minha nova casa da qual nunca cheguei a falar aqui, sózinha, sentada a olhar para nada nem para sítio nenhum. A observar o vazio sem ver nada e sem ter nada para observar. Apenas ficar ali.
Os últimos meses têm sido uma montanha-russa de emoções e acontecimentos. Mas deixei de ter a certeza de que vale a pena continuar pelo caminho em que estou. Será melhor continuar ou mudar de direcção? Não estou feliz, mas será que poderei vir a sê-lo se continuar a lutar por isso? Há quem me diga que vale sempre a pena lutar. Não sei se vale. Muitas vezes, os resultados conseguidos não valem o esforço que fizemos por eles.
Para já, acho que vou ficar parada a observar, não o vazio que me apetecia absorver, mas a evolução dos próximos acontecimentos.