quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

"Lisboa não é a cidade perfeita"

Inda bem que o tempo passou
e o amor que acabou não saiu.
Inda bem que há um fado qualquer
que diz tudo o que a vida não diz.
Ainda bem que Lisboa não é
a cidade perfeita p’ra nós.
Ainda bem que há um beco qualquer
que dá eco a quem nunca tem voz.
Inda agora vi a louca sozinha a cantar,
do alto daquela janela.
Há noites em que a saudade me deixa a pensar:
Um dia juntar-me a ela.
Um dia cantar…
como ela.

Inda bem que eu nunca fui capaz
de encontrar a viela a seguir.
Inda bem que o Tejo é lilás
e os peixes não param de rir.
Ainda bem que o teu corpo não quer
embarcar na tormenta do réu.
Ainda bem se o destino quiser
esta trágica historia, sou eu.
Inda agora vi a louca sozinha a cantar,
do alto daquela janela.
Há noites em que a saudade me deixa a pensar:
Um dia juntar-me a ela.
Um dia cantar…
como ela.

Deolinda

Apesar de Lisboa não ser a cidade perfeita, momentos como a minha hora de almoço de hoje deixam-me a pensar se não estará bem perto de o ser.
Não estava tão triste como noutros dias, nem a necessitar de estar sozinha. Apenas algo melancólica e com vontade de sentir na pele o belíssimo sol com que hoje fomos brindados, apesar do frio que nos enregela os ossos sem piedade. Assim sendo, resolvi aproveitar bem a hora que divide o dia de trabalho em dois e tirar algum partido do facto de trabalhar no centro da cidade.
Desci a Avenida da Liberdade até aos Restauradores, sempre ao sol que à sombra não se aguenta o vento, e entrei no elevador da Glória que esperava por mim, pacientemente. Ao chegar lá a cima, comprei uma dúzia de castanhas (não sei há quanto tempo não fazia tal coisa...) e fui sentar-me num banco, totalmente banhado pelo sol, no miradouro de São Pedro de Alcântara. E ali fiquei, a observar o Castelo onde não entro há anos, a ver a entrada do Condes, transformado em Hard Rock, a deleitar-me com a visão distante do magnífico Tejo, a adivinhar o resto da fachada da Sé que espreita ao fundo, a ouvir o som dos autocarros que passam a cada instante...
Que hora de almoço mais alfacinha poderia desejar? Só faltou a companhia certa, para ser perfeita. Tinha a minha cidade, a vista fantástica, o sol a aquecer-me o corpo... Só não estava quem podia aquecer-me a alma. E ia ficar tão bem com a cidade como pano de fundo. São almas gémeas.

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